Abril Azul: conscientização do autismo

Dentre as diversas causas e suas cores, anualmente o mês de abril fica azul para promover a conscientização do autismo – a data foi escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e, em 2021, a comunidade envolvida com a ação no Brasil todo segue unida com a campanha: “Respeito para todo o espectro”.

Entenda o TEA

De acordo com o Manual de Transtornos Mentais (DSM), livro com significativa importância quando o assunto é parâmetros clínicos dos diagnósticos de transtornos neuropsiquiátricos em todo o mundo, o mais recente – o DSM-5 – descreve o Transtorno do Espectro Autista (TEA) sendo, no geral, um distúrbio de desenvolvimento que leva a severos comprometimentos de comunicação social, comportamentos restritivos e repetitivos, que tipicamente se inicia nos primeiros anos de vida.

Trata-se, então, de um transtorno do neurodesenvolvimento; isso significa que seus sintomas podem ser detectados desde a primeira infância, sendo possível um diagnóstico já aos dezoito meses de vida. Porém, mesmo antes é possível identificar os sinais de atraso no desenvolvimento infantil, e iniciar as intervenções.

Apesar de cada criança, adolescente ou adulto mostrar particularidades, o transtorno afeta principalmente a socialização e a comunicação, e demonstra a prevalência de determinados sintomas como: dificuldades em expressar o que sente, o que pensa, em falar de acordo com o contexto – dificultando a comunicação verbal, atrasos no desenvolvimento cognitivo que ocasiona comprometimento no seu desempenho escolar, comportamentos repetitivos, manias, rituais, e interesses restritos. 

O diagnóstico precoce minimiza o impacto

O indivíduo com TEA pode apresentar também um  pouco ou nenhum contato visual, e ter tendência ao isolamento, além de comportamentos que demonstram alta irritabilidade. Pode haver, ainda, comorbidades com outros transtornos como Transtorno Opositor Desafiador, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Deficiência Intelectual, dentre outros.

Além do TEA, muitos têm também distúrbios sensitivos e perceptivos visuais, auditivos e de sensibilidade na pele, com elevada sensibilidade de barulhos, ruídos específicos, luzes, agrupamento de pessoas e determinadas cores e formas de ambientes. Por outro lado, podem ter baixa percepção para face humana, interpretação global das funções dos brinquedos e, enfim, ignorar momentos de controle social como regras e rotinas dos lugares onde visita. 

Todos estes fatores descritos, comprometem as habilidades sociais de quem tem TEA, e estes sintomas podem variar entre um nível mais leve ao mais severo – porém, o aspecto comportamental e social são sempre afetados. 

No entanto, as crianças com TEA podem ter surpreendente evolução, dependendo de muitos fatores – dentre eles o diagnóstico precoce, especialmente antes dos três anos de vida. É muito importante ressaltar que a identificação precoce minimiza o impacto na vida do indivíduo, já que é possível começar uma intervenção antes que os sintomas se agravem – proporciona melhor qualidade de vida para ele e seus familiares, e aumenta a possibilidade futura de inserção no mercado de trabalho.

Mesmo com o avanço dos estudos, ainda não se sabe com exatidão o que determina o autismo, mas algumas pesquisas revelam que o autismo é genético; ou seja, decorre da carga genética dos pais ou é uma mutação genética da própria criança. E também há estudos que sugerem fatores ambientais de risco para o autismo no período pré-natal (durante a gestação), perinatal (nascimento) e pós-natal.

Dados sobre a prevalência do TEA

O Centro de Controle de Prevenção de Doenças (CDC), da agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos divulgou em março de 2020 um documento que informa que a prevalência de pessoas com autismo aumentou. Em 2004, o número divulgado pelo CDC era de que uma pessoa em 166 tinha TEA; em 2012 mudou para 1 em 88 e, em 2018, estava em 1 em 59. Nesta publicação mais recente, de 2020, a prevalência está em 1 em 54. 

Vários fatores contribuíram para esse aumento, dentre eles o consentimento dos sintomas pelos profissionais da saúde e educação, além dos pais, favorecendo cada vez mais um reconhecimento dos sinais e encaminhamento para avaliação e intervenção.

Qual a importância da avaliação neuropsicológica no Transtorno do Espectro Autista?

O livro “Autismo: Avaliação psicológica e neuropsicológica”, das autoras Cleonice Alves Bosa e Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, revela que:

 “Dentro da complexidade e da variabilidade de expressões dos sinais do TEA, compreender quais alterações cognitivas fazem parte desse quadro é fundamental. Muitas vezes, a identificação do perfil cognitivo auxilia no estabelecimento de diagnóstico diferencial com outros transtornos (como os da linguagem e da comunicação social [pragmática]), ou na identificação de comorbidades, como Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), ou deficiência intelectual (DI), que podem agravar os prejuízos das diferentes esferas do relacionamento das pessoas com TEA.”

Uma ferramenta muito importante é a avaliação neuropsicológica: o procedimento permite traçar um perfil de forças e fraquezas do funcionamento cognitivo, investigando as habilidades preservadas e as comprometidas, para estabelecer potencialidades e áreas de prejuízo. Na prática, a técnica consiste em atividades intelectuais, verbais, executivas e análise social e comportamental nos diferentes ambientes que este frequenta, para avaliação de diversas características da pessoa.

Se há suspeitas de traços de TEA ou atrasos no desenvolvimento da criança, procure um profissional habilitado para realizar uma avaliação – o objetivo é auxiliar e traçar um plano de ação terapêutico e educacional funcional, a partir do perfil neurocognitivo e comportamental do indivíduo. Marque o seu horário comigo pelo WhatsApp da Clínica Plenitude!

Fontes: 

Cardoso, Caroline de Oliveira e Natália Martins Dias. Intervenção neuropsicológica infantil: Da estimulação precoce-preventiva à reabilitação. Editora Pearson Clinical. 1ª Edição. Editores: Leandro F. Malloy-Diniz e Paulo Mattos, 2019.

Costa, Annelise Júlio e Andressa Moreira Antunes. Transtorno do Espectro Autista na Prática Clínica. Editora Pearson Clinical Brasil, 1ª Edição, Editor: Leandro F. Malloy-Diniz e Paulo Mattos, 2017.

Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – EUA.

Jaqueline R. de Araujo Azinari
Psicóloga e neuropsicóloga