Episiotomia: o corte é mesmo necessário?

Para aqueles que não conhecem, a episiotomia é um procedimento cirúrgico que tem como objetivo aumentar a abertura vaginal por meio de um corte (feito com tesoura ou bisturi) no períneo, no fim do período expulsivo do parto. 

O procedimento foi generalizado no século 18 pelo obstetra irlandês Sir Fielding Ould. Mas foi somente no século 20 que a episiotomia começou a ser adotada em maior escala – sobretudo nos Estados Unidos e em países latino-americanos, como o Brasil. Isso tudo aconteceu na época em que a percepção do nascimento como um processo normal, requerendo o mínimo de intervenção possível, foi substituída pelo conceito de participação como processo patológico, demandando intervenção médica para prevenir perda materna e fetal. 

O uso da episiotomia difundiu-se enormemente a partir das recomendações de obstetras famosos, como: Pomeroy e DeLee – esse último, na década de 1920, recomendava a episiotomia sistemática e fórceps de contra em todas as mulheres que fossem parir pela primeira vez. Todavia, essas recomendações não tinham base em nenhum estudo comparativo, ensaio clínico ou observacional.

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A imagem é do livro Rezende Obstetrícia Fundamental 13ª edição/2016

Desconfiança, manifestações e estudos sobre a episiotomia

Alguns autores mencionam que a prática da episiotomia aumentou consideravelmente a partir de 1950 porque muitos médicos acreditavam que com o corte após o período expulsivo, reduzia-se o tempo de parto – tornando possível que se atendesse rapidamente a grande demanda de partos hospitalares, às vezes até simultâneos. O número de episiotomia só teve queda a partir da década de 1970, quando grupos femininos pró-parto passaram a questionar o procedimento.  

Na mesma época, foram publicados os primeiros estudos clínicos bem conduzidos sobre o tema, questionando o uso rotineiro da episiotomia. Destaca-se uma revisão importante da Thacker & Banta, publicada em 1983, em que se consta, além da inexistência de evidências de sua eficácia, evidências consideradas dos riscos associados, como: dor, edema, infecção, hematoma e dispareunia (dor durante a relação sexual). Apesar de ter tido pouco impacto na comunidade científica na época, esse estudo despertou o interesse pela episiotomia e, posteriormente, foram conduzidos ensaios clínicos randomizados bem controlados. 

Com base em diversos estudos randomizados já publicados, é possível afirmar que: 

  • Não há diferença nos resultados perinatais, nem redução da incidência de asfixia nos partos;
  • Não há proteção do assoalho pélvico materno, pois a episiotomia de rotina não protege contra incontinência urinária ou fecal e, tampouco, contra prolapso genital, associando-se à redução da força muscular do assoalho pélvico em relação aos casos de lacerações perineais espontâneas; 
  • A perda sanguínea é menor, há menor necessidade de sutura e há menor frequência de dor perineal quando NÃO se realiza episiotomia de rotina.

A importância de falar sobre episiotomia

Eu, como mulher e enfermeira obstetra, me vejo no dever de falar sobre episiotomia a fim de evitar que outras mulheres sejam ‘vítimas’ desse procedimento sem o seu consentimento pós-informação. Pense comigo: quanto maior conhecimento, informação e rede de apoio, menor será a dependência informativa dessa gestante – automaticamente, ela saberá filtrar as informações que recebe, o que é verdade, mentira, evidência científica, o que não é comprovado pela ciência e por aí vai.

No Brasil, o corte é feito em cerca de 53% dos casos, de acordo com o ‘Nascer no Brasil – Inquérito Nacional Sobre Parto e Nascimento’, realizado pela Fiocruz. O documento revela que a episiotomia é uma conduta desnecessária, na maioria das vezes, desde 1970.

Opte por uma equipe obstétrica que trabalhe com evidências científicas!

Sim, ao escolher sua equipe obstétrica, procure aquela que preze pela evidência científica, que te informe sobre o que é real e respeite suas decisões e o seu tempo.

A medicina avançou muito nos últimos anos, há tantas técnicas naturais cientificamente comprovadas (feitas antes e durante o trabalho de parto) para auxiliar no nascimento do bebê, que a episiotomia deveria ser extinta – caso não seja comprovada!

Vou insistir na necessidade de se informar: sempre tenha autonomia sobre o seu corpo – ele é a sua casa; cuide dele com amor, muito respeito e não deixe, nunca, que alguém toque nele sem sua autorização! Claro, se isso acontecer, a culpa não é sua, e eu te aconselho a tomar as medidas legais necessárias.

Como já disse, sou enfermeira obstetra, doula, parteira e consultora de aleitamento materno – sou apta para acompanhar pré-natal, parto e pós-parto. Se você quer uma pessoa para te assistir de forma respeitosa e afetuosa, conheça o meu serviço – agende sua avaliação comigo! 

Fonte: Rezende Obstetrícia Fundamental 13ª edição/2016

Kelli-Gil-Zamignan
Kelli Gil Zamignan,
Enfermeira Obstetra
COREN/MT – 360550 / RTE – 035926