Acreditamos que este mito de que só pode cesárea após uma cesárea esteja com os dias contados, devido ao aumento de informações por parte de nossas gestantes. Ora, nada mais justo do que se informar sobre o momento mais mágico de nossas vidas: o nascimento de um filho.
O termo em inglês Vaginal Birth After Cesarean (VBAC) é usado para descrever partos normais com antecedente de cesariana. Porém, a primeira pergunta que nós, médicos, devemos fazer é: qual a real indicação desta primeira cirurgia? (Sim, a cesariana é um tipo de cirurgia!)
Muitas vezes, lidamos com partos cesarianos devido a desejos maternos, medo de dores, bebês grandes, pequenos, acima do peso, circulares de cordão e, principalmente, à falta de informação – como aquela antiga lenda de “não possuo passagem”; ou seja, situações nas quais fomos enganados e que hoje sabemos que nunca foram indicações reais de cesárea. Para se ter ideia, a taxa aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 10-15% de cesarianas. Já o nosso país – campeão nesta forma de nascer – alcança o índice de 50%(!).
“O médico disse que eu não tive passagem.”
Expressões como esta já estão caindo por terra, pois é impossível afirmar antes do trabalho de parto que o mesmo não progredirá. Não existe ferramenta científica que nos embase em afirmar paradas de progressão do parto de antemão.
“E se a cicatriz da minha cesárea abrir?”
A chance da cicatriz se romper é muito baixa, ao redor de 0,5%, sendo prontamente diagnosticada e tratada. Todos os trabalhos científicos garantem segurança para mãe e para o feto; logo, expor a gestante a uma situação de trabalho de parto não aumenta os desfechos ruins – comparados àquelas pacientes que nunca tiveram cesariana. Temos uma chance de mais de 70% de sucesso de um parto normal. Inclusive, foram divulgados alguns estudos mostrando taxas de sucesso semelhantes entre antecedentes de uma ou duas cesáreas.
E quanto ao pré-natal?
Ele não é diferente de um pré-natal habitual; podemos aguardar as 42 semanas com segurança!Caso o trabalho de parto não ocorra e seja necessária a interrupção da gestação, por algum motivo qualquer, temos métodos disponíveis para induzir a gestante com cicatriz de cesárea anterior.Geralmente, uma paciente que busca um VBAC está informada dos riscos e benefícios das duas vias de parto, desligando-se de seus medos e quebrando mitos popularmente enraizados.
Uma equipe composta por profissionais minimamente humanizados é essencial para a mulher conseguir dar à luz de uma maneira tranquila, tendo a certeza de que todos os procedimentos que foram feitos eram realmente necessários naquele momento. A gestante deve ser acolhida, cuidada e encorajada a ir até o fim com o seu ideal – sempre a par das últimas evidências científicas.
Vivenciar uma nova experiência e superar traumas ou frustrações de algum parto anterior é o verdadeiro significado de um VBAC. Uma nova chance de autossuperação, de mostrar que seu corpo é perfeito e capaz de comandar sozinho a melhor maneira de seu filho vir ao mundo. É como dizem: “As mulheres sabem parir e os bebês sabem nascer” e, ao buscar uma rede de apoio com profissionais humanizados e uma estrutura minimamente adequada, o VBAC torna-se cada vez mais reprodutível hoje.